Bispo, párocos, catequistas e famílias reúnem em Assembleia

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Após dois anos de confinamento e ainda com alguma parcimónia, catequistas da Diocese, párocos e uma ou outra família, aceitaram o desafio de representar o conjunto dos agentes da catequese diocesana, reunindo-se no Cineteatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora, para a III Assembleia Diocesana da Catequese (ADC), no atual formato, com a presença acolhedora e atenta do Bispo diocesano, D. João Lavrador, desta vez no Arciprestado de Caminha, cuja Equipa Arciprestal é coordenada pelo Pe. Valdemar Fernandes.

Num ambiente muito simpático, os 222 participantes começaram o dia rezando comunitariamente a Oração da Manhã, Laudes, “a forma certa de começar” o encontro, nas palavras de um dos oradores. Subordinada ao lema “Catequista, caminha!”, coube à Irmã Maria Celeste e ao Ricardo Fernandes, membros da Comissão Sinodal Diocesana, iniciar os trabalhos para sublinhar alguns dos aspetos relevantes da síntese conclusiva da Caminhada Sinodal Diocesana, que envolveu mais de 2.500 pessoas dos 10 Arciprestados. Os oradores dividiram o seu tempo entre comentários à questão fundamental do Sínodo, à vivência da Liturgia, à autoridade e participação em Igreja e à formação dos agentes pastorais. O Cón. Luis Rodrigues, responsável pela catequese na Arquidiocese de Braga, ofereceu aos presentes uma interessantíssima dissertação sobre a formação de catequistas, mostrando que o lugar adequado a esse labor de “tomar forma” é, justamente, “no seio vivo da comunidade”. Com a ajuda de um modelo que harmoniza Evangelho com documentos do Magistério e características humanas, esboçou o perfil do catequista e o seu processo evolutivo.

Para iniciar a tarde, a Sofia Brito pôs todos os participantes a movimentar-se, literalmente, a propósito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), após o que, com a Ângela Fernandes, informou a Assembleia sobre os trabalhos nacionais e, sobretudo, diocesanos, de preparação da JMJ Lisboa 23. Pertencendo ambas à equipa vocacionada aos Dias na Diocese, deixaram clara a missão, que a todos compete, de acolher generosamente os muitos jovens que – vindos de todo o mundo – escolheram a nossa Diocese para visitar e conhecer, e apelaram à inscrição do maior número possível de famílias de acolhimento. Ainda sob o mesmo tema tão cristão do acolhimento, Ricardo Oliveira expõs o novo desafio que, em particular nas comunidades urbanas, tem vindo a acentuar-se e a que não podemos ficar alheios, que passa pela integração plena de famílias com origem nas mais variadas geografias. Convidou uma família brasileira recentemente fixada em Viana do Castelo, que partilhou as dificuldades que sentiu ao tentar inserir-se numa comunidade nova, mas com os mesmos valores cristãos. Finalmente, o Pe. Paulo Alves transmitiu a urgência de “conversão pastoral de todos os agentes, sobretudo, párocos, catequistas e famílias, aos novos desafios” com que a catequese nos confronta. Recorrendo ao testemunho de diversos catequistas, apresentou o novo itinerário para a catequese sistemática que a Igreja portuguesa está a desenvolver, e as metodologias de formação para os novos catequistas e para consolidação dos atuais.

A Eucaristia foi presidida por D. João Lavrador e participada pela generalidade dos participantes na Assembleia (5 de Arcos de Valdevez, 37 de Caminha, 9 de Melgaço, 3 de Monção, 1 de Paredes de Coura, 1 de Ponte da Barca, 25 de Ponte de Lima, 15 de Valença, 113 de Viana do Castelo, 12 de Vila Nova de Cerveira e 1 de Esposende, Braga), a quem foi oferecido um pequeno símbolo para estimular a necessidade e a vontade de caminhar: uma pegada.

O Secretariado Diocesano da Catequese agradece o importante apoio recebido da Câmara Municipal de Caminha e de alguns dos seus colaboradores, tal como dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora. No próximo ano, se Deus quiser, a IV ADC terá lugar no Arciprestado de Melgaço.

“A catequese tem a metodologia de entramos no ser do outro”

Durante a Oração de Laudes, D. João Lavrador fez uma reflexão sobre a missão dos catequistas, que estão em “comunhão profunda” com Jesus Cristo e a participar no Seu ministério, estendendo-o. “Apreendamos o Seu ser e vivamos tocados pelo Seu amor”, apelou, afirmando: “O amor leva-nos a tal grau que podemos falar em nome do outro sem que este fique enfadado. Aliás, podemos usar a palavra ‘nós’ porque, no amor, estamos em posse. Ele está em nós.”

O prelado lembrou que se vive numa cultura “auto-eficiente”. “Cada um pensa, faz o seu projeto, raciocina e opina. Quantas vezes estamos a projetar opiniões e não deixamos que o outro toque em nós, neste caso, Deus. Como é que isso se faz?”, questionou, salientando o pedido de Jesus Cristo: humildade e desprendimento. “Temos de chegar a uma conversão permanente”, atirou, referindo que “o próprio Jesus Cristo é que vai converter”. 

D. João defendeu ainda que os catequistas “não são só transmissores de conteúdos”, enaltecendo a importância da partilha de experiências. “A catequese tem a metodologia de entrarmos no ser do outro para o ajudar a fazer o percurso”, reiterou, lembrando as palavras do Papa Francisco no encontro com catequistas sobre o testemunho. “Narrar como o Senhor fez comigo para que o outro apreenda, não só na palavra, mas também na minha vida”, terminou.

“O agente da catequese é a Igreja”

Já na homilia da Eucaristia que encerrou a Assembleia, refletiu-se sobre a formação, “que deve ser continuamente renovada”. “A catequese é culminante para responder àquilo que é a interpelação que Jesus Cristo faz em cada tempo e à realidade da pessoa, neste caso, da criança/jovem que, mais tarde, será adulto”, afirmou, lembrando que as circunstâncias são “diferentes”. “A catequese, como toda a ação da Igreja, é uma ação da comunidade cristã”, salientou, acrescentando: “O agente da catequese é a Igreja, por isso, a Igreja tem o dever de nos dizer como deve ser o nosso ser e fazer, enquanto catequese.”

O Bispo diocesano também defendeu que “os catequistas devem corresponder àquilo que a Igreja pede”. “Nós devemos estar intimamente inseridos na própria Igreja”, afirmou, frisando que ser catequista é “uma missão em comunhão uns com os outros”. “A nossa tarefa requer um esforço”, reconheceu, referindo que “edificar/formar a pessoa cristã é um serviço único”. “Toda a ação pastoral tem que levar ao encontro com Cristo, de tal modo que a pessoa responda vocacionalmente a Ele”, reiterou.

No final da Eucaristia, pediu aos catequistas para terem “coragem de caminhar para a formação em família diocesana e paroquial” e procurarem “estar sempre muito despertos” para que Jesus Cristo toque na vida de cada um. “A catequese é para fazer cristãos”, terminou.

“Ser catequista é um chamamento”

Este ano, o Papa Francisco instituiu o Ministério de Catequista, afirmando “a necessidade de reconhecer a presença de leigos que, em virtude de seu Batismo, se sentem chamados a colaborar no serviço da catequese”. 

Na Diocese de Viana do Castelo, são muitos aqueles que prestam este serviço, entre os quais, três catequistas de 26, 40 e 70 anos, que quiseram marcar presença na III Assembleia Diocesana de Catequese.

A missão como catequista é, segundo elas, “difícil”, mas “muito nobre”. “Tem de se querer muito. É uma missão de voluntariado e de entrega”, começou por referir o catequista de 26 anos. “A missão é evangelizar os que estão no início da caminhada, os que estão a meio e continuar. É um dever de dar resposta e de grande responsabilidade”, disse a catequista de 40 anos, defendendo que “a missão é do Pároco”. No entanto, “como não tem como chegar a todos, pede colaboradores, braços direitos: os catequistas”. “Ser catequista é um chamamento”, continuou, frisando: “Os principais evangelizadores são os pais e, infelizmente, existe falta de apoio às crianças da parte deles, em que o foco está voltado para a vida terrena e não atingir o bem maior, que é Cristo.” 

Já a catequista de 70 anos, afirma que a sua missão, enquanto catequista, é “despertar nas crianças o desejo de conhecer uma pessoa: Jesus”. “Não é uma tarefa fácil, mas a missão é o próprio Jesus e já não estamos sozinhos”, referiu, acrescentando: “É uma missão de transmissão da Boa Nova, de esperança que Deus está connosco e caminha connosco.”

“É muito difícil atrair”

Nos dias de hoje, cativar as crianças e jovens a frequentar a catequese, o que "depende de Paróquia para Paróquia”, é igualmente “desafiante” porque “existem outras atividades que se sobrepõem à catequese”. “Há uma festa de anos, e falta-se. Na escola, não acontece”, atirou o jovem, recordando a sua passagem por S. Tomé, onde o entusiasmo é outro. “Eles são muito adultos e têm muita maturidade. Apesar de existirem muitas religiões, tudo acredita em Cristo”, contou, lamentando que, “possivelmente”, daqui a alguns anos viver-se-á lá o que se passa cá.  “É muito difícil atrair. Se soubesse o que é preciso, não estaria aqui a participar na Assembleia”, afirmou, defendendo: “Mas, a melhor forma de atrair é a proximidade, ter confiança e uma relação própria. O nosso testemunho, ser próximo, ser uma pessoa dada; assim talvez tenham consideração. Por exemplo, os filhos respeitam os pais, porque estes se dão. O segredo deverá ser a proximidade, a relação com os catequizandos. Só que nem todos se deixam aproximar.” 

A catequista de 40 anos defende a promoção de encontros com as famílias dos catequizandos e a formação do Sacramento do Matrimónio. “A sociedade deve lutar e procurar mais evangelização dos adultos”, reiterou, referindo que “as famílias têm de ser mexidas”. “A missão deve começar com os pais; por isso, é importante conhecê-los. Nós somos os agentes e, se não temos os pais do nosso lado, não conseguimos nada”, referiu, acrescentando: “Quero ver as crianças a crescer na fé e a sua vivência tem de ser um caminho junto – família, catequizando, catequista.” 

Ironicamente e entre risos, a catequista de 70 anos intercedeu pela catequese de outrora. “É preciso adaptar a mensagem, com novas formas e criatividade porque, antigamente, era muito mais fácil falar de Jesus. De uma maneira geral, as crianças escutavam, não tinham tantas distrações e não andavam tão dispersas”, disse, reiterando: “Não podemos seguir um catecismo. Isto é, seguir como estão feitos. Temos de inovar a forma de transmitir e comunicar.”

“A forma doutrinal e pedagógica é importante”

Sobre a Assembleia Diocesana, os catequistas salientaram a partilha de experiências. “É importante ouvir as dificuldades e as experiências dos vários catequistas da Diocese, captando novas estratégias, conselhos do Bispo e dos pastores”, afirmou o jovem de 26 anos, frisando que veio “buscar orientação, força e coragem para o resto do ano”. “O importante é ouvir o que os nossos responsáveis têm para nos dizer. É levar algo, e já estou a levar muito”, assegurou a catequista de 40 anos. “O facto de estarmos todos juntos, com o mesmo objetivo: transmissão da Boa Nova da fé”, salientou, acrescentando: “É importante a formação concreta com os catequistas. Os catequistas têm pouca formação, embora não estejam disponíveis pelos afazeres que têm. A forma doutrinal e pedagógica é importante para os catequistas”.