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D. João Lavrador defende que o jornalismo deve promover a "escuta da realidade"
A Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, e a Diocese de Setúbal, promoveram a apresentação da mensagem do Papa para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais no Santuário de Cristo Rei, em Almada. A mensagem alerta para uma “infodemia” que desvaloriza o papel da imprensa e apela à valorização da “escuta”, que acrescenta “credibilidade e seriedade” à informação.
Sob o título “Escutar com o ouvido do coração”, o Papa Francisco afirma que “a capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia. A grande desconfiança que anteriormente se foi acumulando relativamente à ‘informação oficial’, causou também uma espécie de ‘infodemia’ dentro da qual é cada vez mais difícil tornar credível e transparente o mundo da informação”, alertou, acrescentando: “É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo abrandamento ou cessação de muitas atividades económicas.”
Na apresentação, o Bispo de Viana do Castelo e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. João Lavrador, defendeu a necessidade de se evitar um jornalismo de “gabinete, sensacionalista, de opinião ou de redes sociais”, sublinhando que o jornalismo deve promover a “escuta da realidade".
Já a jornalista Paula Moura Pinheiro alertou para o “ruído”, que “tem vindo em crescendo a dificultar a escuta”, ao mesmo tempo que, aliado à “velocidade” da ação, da produção e do pensamento, causa “disfunção”.
Também o Bispo da Diocese de Setúbal, D. José Ornelas, marcou presença na apresentação e frisou que “a palavra que se diz, que se escuta, é uma palavra que transforma”.
Para o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, no entanto, “não basta ouvir; é preciso narrar e dar sentido” ao que se escuta.
Na mensagem, Francisco sublinha ainda o papel da escuta na superação dos preconceitos contra os migrantes, convidando todos a “ouvir as suas histórias” de pessoas concretas. “Dar um nome e uma história a cada um deles. Há muitos bons jornalistas que já o fazem; e muitos outros gostariam de o fazer, se pudessem. Encorajemo-los! Escutemos estas histórias”, apelou, apresentando a escuta como o “primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação”. “Para fornecer uma informação sólida, equilibrada e completa, é necessário ter escutado prolongadamente. Para narrar um acontecimento ou descrever uma realidade numa reportagem, é essencial ter sabido escutar, prontos mesmo a mudar de ideias, a modificar as próprias hipóteses iniciais”, frisou, lamentando a perda de capacidade de ouvir o outro, com pessoas fechadas em “partidos ideológicos”.
O texto critica quem procura “ridicularizar o interlocutor”, mesmo dentro da Igreja, falando ainda numa “surdez interior”, na vida de muitas pessoas; e alude ao Sínodo 2021-2023, um processo lançado no último mês de outubro, desejando que seja “uma grande ocasião de escuta recíproca”. “A comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs”, reforçou o Papa.
A mensagem para a celebração é publicada a 24 de janeiro, dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.