Diocese de Viana do Castelo enriquecida com três novos Diáconos 

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A Diocese de Viana do Castelo esteve em festa. Celebrou o seu 45º aniversário, participou na Semana dos Seminários 2022 e acolheu três novos Diáconos. A Sé Catedral foi o palco escolhido para as celebrações, que foram presididas pelo Bispo diocesano, D. João Lavrador, e contaram com a participação do Vigário-Geral, Mons. Sebastião Ferreira, e dezenas de sacerdotes oriundos das várias Paróquias.

Entre dezenas de pessoas que encheram a Sé Catedral e sem querer tirar protagonismo a ninguém, há três delas que não podiam faltar à celebração pelo “espaço” que ocupam no coração de João Cruz, João Santos e Renato Costa. As suas mães.

Ordenação Diaconal 2022“Se ele é feliz, eu sou feliz”

Celeste Santos, mãe de João Santos, estava rodeada da família e mostrava-se nervosa. Quando João Santos contou que queria ser padre, chorou. “Não sei explicar porquê, mas ele andava numa incógnita. Muito indeciso e, por isso, era uma coisa que esperava e não esperava”, explicou, salientando que foi sempre “muito participativo” na Paróquia. “Muitas pessoas já diziam que ele ia seguir o caminho do sacerdócio”, contou, mostrando-se “muito feliz”. “Chorei e ainda hoje não sei explicar porquê, mas passados estes anos todos, o mais importante para mim, continua a ser a felicidade dele. Ele está feliz. Para mim, não há mais nada importante. Se ele é feliz, eu sou feliz”, frisou emocionada, confidenciando a “grande alegria” que sentiu naquele momento. “É quase como ver um filho casar. É igual, sobretudo, na felicidade”, afirmou.

“Incentivei-o sempre”

Fátima Costa é mãe de Renato Costa e estava acompanhada pelo seu marido, que aguardava a chegada de mais familiares. “Já era um sonho meu que ele fosse padre. Quando fiquei grávida dele, pensei para mim que, caso fosse menino, gostava que ele fosse padre”, contou, referindo que a sua família sempre foi “muito chegada” à Igreja. “Incentivei-o sempre, mas nunca o obriguei a seguir este caminho. Aliás, sempre que lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande, ele respondia que queria ser padre”, disse, assegurando: A educadora dele chegou a perguntar-me se era opção dele ou se éramos nós que andávamos a motivá-lo para ser padre. No meu ver, foram ambas as partes. Ele veio para o Seminário com 11 anos e disse-lhe: «Meu filho, se não é isso que queres para a tua vida, não tens de vir.» E, ele disse-me: «Minha mãe, era isto que eu sonhava»", confidenciou, revelando “algum nervosismo”, mas felicidade “acima de tudo”. “Estamos muito felizes por ele”, frisou.

“É uma alegria”

Já Maria Rosa Cruz, mãe de João Cruz, fez-se acompanhar pela sua própria mãe, que admitiu sentir “uma grande alegria” por vê-lo chegar até aqui. “Ele disse-me que queria ser padre com seis anos. Íamos para a escola… Eu era cozinheira na escola e ele ia à minha frente com a mochila às costas. Virou-se para trás e contou-me que estava indeciso entre duas profissões: ser padre ou carpinteiro. Disse-lhe que ele ainda tinha muito tempo para escolher e que, embora não parecesse, tinham muito a ver uma com a outra. S. José era carpinteiro”, contou, confidenciando que lhe chegaram a dizer que “o estava a obrigar” a seguir o caminho do sacerdócio. “Também falavam dos olhos bonitos dele e que por isso não ia ser padre. E ele mesmo me perguntava o que é que os olhos dele tinham a ver com o querer ser padre”, acrescentou, assegurando que João Cruz “foi sempre muito feliz”. “Não sei como me sinto. Não sei explicar. É aqui dentro… é algo cá dentro. Não é vaidade”, salientou, confidenciando que chorou na Missa. “É uma alegria, porque ele nunca vacilou. Se vacilou, não dei por ela. Ele vinha sempre muito feliz do Seminário. Cheguei a ir lá e vir embora às 23h00, sozinha. Vinha feliz porque o via muito feliz”, frisou, acrescentando: “Eles lá têm tudo. Não são privados de nada. Têm tudo. Só não são casados. Não criam as tradicionais famílias, mas criam as suas famílias de coração.”

Em cada uma delas, o orgulho era mais que evidente e, durante a Eucaristia, ao lado daqueles que mais amam, não esconderam as lágrimas de felicidade ao ver os seus filhos fazer a promessa do diaconado.

“Criámos uma grande amizade”

Já no outro “espaço” do coração, estão os amigos. “Estive no Seminário Menor, mas não segui logo para o Maior. No entanto, quando regressei, entrei com eles, e o início ficou marcado pela desconfiança porque estávamos a conhecer-nos; mas, ao longo do tempo e ao final das duas semanas, criámos uma grande amizade”, contou o seminarista Tiago Nogueira, mostrando-se “completamente feliz” pelos três amigos. “A Diocese de Viana tem muito a ganhar com eles, pelo exemplo e entrega. Além disso, mostram vontade de trabalhar”, destacou.

Liliana Rodrigues e Rúben Faria são amigos de João Santos. Vão casar e fizeram questão de convidá-lo a concelebrar a cerimónia. “Conhecemo-nos desde a infância”, começou por contar Liliana, referindo que o João sempre foi “muito participativo” na Paróquia. “Ele está muito feliz. O percurso até aqui, deu-lhe a certeza de que o sacerdócio é o seu caminho. Hoje, é só mais um passo muito importante para essa concretização”, disse.

“Acompanhar a reta final destes três jovens é um estímulo”

Ainda há um “espaço” que é ocupado por aqueles que se cruzam pelo caminho, acompanhando-os de perto. “Acompanhar a reta final destes três jovens é um estímulo porque é um reavivar e recordar o percurso de vida, que é também meu. É recordar o próprio diaconado – disponibilidade total para missão e configuração com Jesus Cristo”, confidenciou, louvando o percurso dos três jovens. “Ver três jovens, num mundo em que é tudo tão volátil, passageiro, com prazos e limites, querer entregar-se toda a vida, é de admirar hoje em dia”, afirmou Mons. José Caldas, enaltecendo as dimensões “únicas” que João Cruz, João Santos e Renato Costa darão à Diocese de Viana do Castelo. “São três jovens diferentes. Conheço bem o Renato, porque fui Pároco dele. Vem de uma família humilde e comprometida pela Paróquia. E ‘quem sai aos seus, não degenera’. O Renato parece-me igualmente transparente e que, amadurecendo a sua vocação neste ano de diaconia, poderá ser um bom padre”, disse, continuando: “O João Santos vem de uma família numerosa. Teve um percurso diferente, porque entrou mais tarde para o Seminário, mas revela uma vontade de transformar o mundo. É alguém que está entusiasmado para vir para a Pastoral. Creio que é o fulgor da juventude. Nós, padres mais velhos, podemos estar acomodados e ele traz a novidade.” Já sobre João Cruz, o formador contou que o conheceu melhor este ano. “É alguém mais virado para a espiritualidade, mais introvertido e com uma vertente mais contemplativa do nosso ministério”, referiu, reiterando: “Cada um deles tem uma dimensão única que enriquecerá a nossa Diocese. Um com a vertente espiritual, outro com a pastoral e outra com a vertente mais humana. Creio que só isso diz bem dos três.”

“Integrar a vossa ordenação de Diáconos na celebração da Igreja diocesana é um convite muito forte a descobrir a singularidade da Diocese”

D. João Lavrador mostrou a sua alegria com a ordenação de três jovens como Diáconos, dando “graças a Deus” pelo trabalho pastoral do Seminário. “Sois, para todos nós, o estímulo a alertar-nos para o essencial da Igreja que, na sua missão evangelizadora, à imagem de Jesus Cristo, é chamada a servir a pessoa humana e a sociedade, dando preferência aos mais pobres e marginalizados”, disse, dirigindo-se aos três jovens. “Integrar a vossa ordenação de Diáconos na celebração da Igreja diocesana é um convite muito forte a descobrir a singularidade da Diocese como comunidade primeira, na qual se integram e da qual participam, em comunhão eclesial, as demais comunidades cristãs nela sediadas, mas igualmente é um desafio muito vivo, que está patente em vós, na vossa entrega e despojamento para o serviço, que informa a proclamação e o testemunho evangélico do cristão e da comunidade cristã”, afirmou.

Recorrendo à Palavra de Deus, disse que a comunidade diocesana é convidada a avivar a fé e o compromisso, “que advêm da ressurreição de Jesus Cristo e da qual é participada pelo Batismo”. “Assentes na experiência que nos vem da ressurreição de Jesus Cristo, da qual participamos pelo Batismo, somos chamados a projetar no mundo de hoje a esperança que brota da comunhão de vida com Jesus Cristo.”, apelou, recordando uma passagem do Papa Francisco na sua viagem recente ao Canadá. 

O prelado salientou ainda o papel da comunidade do Seminário diocesano, “que exige a oração, o empenho, a partilha generosa e o reconhecimento pelo trabalho formativo daqueles que serão os presbíteros a servir as diversas comunidades cristãs”. “O Seminário é sinal, perante todos, do convite que Jesus Cristo dirige a cada um para descobrir a sua vocação e para se empenhar na missão evangelizadora da Igreja”, frisou, lembrando o desafio que lançou na Nota Pastoral sobre a realidade concreta dos jovens que frequentam o Seminário. “Saibamos discernir os apelos de Deus dirigidos à comunidade diocesana”, disse, alertando para os tempos “muito confusos”, que “estão a dificultar uma perceção nítida da beleza da Igreja tal como Jesus Cristo quer que ela seja e, consequentemente, do ministério sacerdotal”. “Pertence-nos a nós, não só não contribuirmos para que se avolume esta nuvem negra, mas, pelo contrário, oferecermos, num testemunho fiel e coerente ao Evangelho, a imagem do rosto resplandecente onde cada pessoa possa contemplar o amor misericordioso de Deus”, defendeu.

Por fim, deixou um convite “a todos os jovens da Diocese” para “o encontro com Jesus Cristo” através da Jornada Mundial da Juventude. “Sede generosos, porque com Jesus Cristo nunca ficaremos desiludidos”, reiterou, terminando: “Imploro, para toda a Diocese, para o nosso Seminário, e para vós, jovens que ireis receber a ordenação de Diáconos, as bênçãos e a intercessão de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, de S. Teotónio, de S. Bartolomeu dos Mártires, de S. Paulo VI e de S. João Paulo II, e que nos estimulem a percorrer os caminhos da evangelização do mundo de hoje.”

Ofertório paroquial reverteu a favor da Diocese

A celebração incluiu ainda um ofertório solene, em que representantes de cada Arciprestado e Movimentos apresentaram a D. João Lavrador as ofertas arciprestais para a Diocese. Houve até quem se vestisse a rigor para representar as suas origens.