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Diocese de Viana reza pela Paz
Henrique tem 12 anos. Acompanha os pais na vigília de oração pela paz na Ucrânia que, em plena Quarta-feira de Cinzas, sob um céu carregado de nuvens, junta centenas de pessoas no escadório do Santuário de Nossa Senhora d´Agonia. Nem o tempo incerto dispersa aqueles que ali se encontram intercalando nas mãos as velas, o terço e o guarda-chuva. Henrique não hesita: sente-se triste “ao ver pessoas que ainda não sabem que não é assim que se resolvem os conflitos e que as guerras já não deviam existir”, e questionado sobre o conselho que daria ao povo ucraniano volta a ser perentório: “diria para lutarem pelo seu país, para se defenderem, porque quanto mais unidos estiverem, melhor”.
Natália tem 45 anos. Está há 21 anos em Portugal. Natural da Ucrânia, fala ao telefone, com voz embargada, do seu país, da sua família, que não consegue sair de Lviv, e agradece todo o apoio e reconhecimento que se tem dado à comunidade ucraniana. “Hoje até me apercebi que Santa Luzia se iluminou com as cores da bandeira da Ucrânia”, chega a comentar. Mais tarde, em resposta, por mensagem, às perguntas colocadas pelo Notícias de Viana, assume que vive este momento com “muito desespero, angústia e muita tristeza”. “No dia 24 de fevereiro recebi uma chamada da minha mãe a dizer que Kiev estava a ser atacada. Desde esse dia que mantenho o contacto com toda a minha família. O computador está ligado 24 sobre 24 horas”, confessa.
Natália acompanha grande parte das notícias pelos meios de comunicação ucranianos, e garante que a realidade tem sido muito filtrada. “Putin e os soldados russos estão a destruir todas as infraestruturas que não são militares: escolas, infantários, maternidades, prédios, património histórico que é património da UNESCO, assim como igrejas e teatros”, afirma, não tendo dúvidas em classificar os atos cometidos como claramente genocidas e propositados. Na verdade, não seria a primeira vez que tal aconteceria, e, para tal, basta recuar até ao período entre 1932 e 1933, quando a então Ucrânia Soviética foi sujeita a um tempo de fome provocada, sem precedentes, conhecida como Holodomor e que vitimou – apesar de haver uma grande flutuação de números – pelo menos 7,5 milhões de ucranianos.
No final da oração do terço, as palavras de D. João Lavrador fariam eco deste drama.
“Vamos ter um coração aberto a todos, vamos acolher. Dentro de alguns dias teremos entre nós alguns que virão. Todos nós imaginamos a dor e o sofrimento do que é deixar uns, uma parte da família a lutar, e a outra parte a despedir-se e a ter de ir para outra terra. Já vimos essas imagens.”, lembrou, pedindo aos presentes que não cessem de “rezar” para que “o mal se extinga e pela conversão do coração”, para que se possa alcançar “a comunhão, o amor, a fraternidade”.
“Somos irmãos. Esta guerra é feita entre irmãos, não entre pessoas alheias, mas a mesma humanidade, como nos recorda o Papa Francisco”, assinalou.
D. João Lavrador lembrou “os irmãos que sofrem neste momento”, tantos “que vagueiam por países estrangeiros para deixar a sua pátria, a Ucrânia” e falou da importância de as crianças rezarem pelas crianças.
“Vamos continuar em oração, implorando ao Senhor que olhe com bondade e misericórdia, com ternura, para todo o mundo, que está numa hora de grande ameaça, de grande perigo, pela ganância, pelo poder, pelo mal que afeta o mundo e as pessoas”, pediu.
“Vamos continuar a avivar a luz dos nossos caminhos, a luz do caminho das nações, a luz da paz. Que as bênçãos de Deus se estendam à nossa cidade, ao nosso país, à Europa e aos que nesta altura mais precisam”, finalizou.
Os desejos de paz são partilhados pela Irmã Isabel Lemos. Ouvida pelo Notícias de Viana afirma que “através da violência saímos todos a perder” e que o que está em cima da mesa “não é uma questão de vencedores e vencidos”, porque, segundo reconhece, “somos todos irmãos”, pedindo que “a oração seja um grito”. Um grito que convocou dois irmãos de 19 e 20 anos, de nacionalidade espanhola, que se assumem impotentes e confusos face ao conflito. “Não faz sentido que tal aconteça. Sentimos uma grande injustiça”, confessam, ao mesmo tempo que procuram “ajudar com o nosso grão de areia”.
Na celebração da Quarta-feira de Cinzas, D. João Lavrador apelou a um reforço de oração pelo povo ucraniano, anunciando que a Cáritas Diocesana vai inaugurar uma plataforma que visa estabelecer apoio económico aos refugiados motivados pelo conflito. Talvez seja isto que queria dizer quando, ao terminar a vigília, garantiu: “Continuamos a rezar com a chama de Cristo no nosso coração”.