Faleceu Pe. Lourenço Alves

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«História e vida» foi o título, adoptado de uma obra do espanhol Gregorio Marañón, que o padre Lourenço Fernandes Alves escolheu para encaixar no «Notícias de Viana», a partir de 1980, uma série de apontamentos sobre o património cultural do Alto Minho.

Durante quase duas décadas, as resenhas históricas a respeito do património histórico, artístico e religioso de muitas localidades ainda hoje constituem um valioso ponto de partida para trazer a memória aos lugares, edifícios e estruturas.

Mas, as duas palavras combinadas reflectem muito mais do que a prestimosa colaboração do padre Lourenço Alves no jornal diocesano. Encerram a história da sua vida, que, no passado dia 18 de Abril, conheceu o derradeiro capítulo, a meses de completar 91 anos de idade.

O padre Lourenço Fernandes Alves nasceu em 13 de Agosto de 1931, na localidade de Riba de Mouro (Monção). Frequentou os Seminários de Braga e, em 1956, recebeu as ordens sacras. Em 17 de Março, a de subdiácono, a que se seguiu, em 8 de Julho, a ordenação de diácono e, em 14 de Agosto, a de presbítero, pela imposição das mãos do arcebispo de Braga D. António Bento Martins Júnior.

Enquanto seminarista desenvolveu o gosto pelos estudos históricos, que foi sendo refinado no contacto com diversos historiadores conhecidos, entre outros o padre Manuel Bernardo Pintor e o cónego Luciano Afonso dos Santos, tendo-os, inclusivamente, acompanhado em algumas expedições arqueológicas.

Depois de ter sido pároco no Arciprestado de Arcos de Valdevez durante nove anos – nomeado para São João Baptista de Sistelo em 5 de Setembro de 1956 e para Rio Frio em 12 de Novembro de 1958 –, tomou posse da paróquia de Santa Maria de Carreço em 8 de Agosto de 1965, permanecendo à frente dos seus destinos até 17 de Agosto de 2000.

Paralelamente ao exercício do múnus pastoral, formou-se em «História», na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, concluindo a licenciatura em 1976, e foi professor de Português e História.

Após a criação da Diocese de Viana do Castelo, integrou o elenco da primeira «Comissão de Arte e Cultura», instituída pelo bispo D. Júlio Tavares Rebimbas, primeiro Bispo da recém-criada Diocese, em 29 de Maio de 1979, tendo sido eleito para o cargo de secretário na primeira reunião, ocorrida em 2 de Julho.

No âmbito das acções da referida «Comissão», empenhou-se no primeiro esforço de inventariação do património cultural da Diocese, que culminou na publicação dos dois volumes da «Arquitectura religiosa do Alto Minho», o primeiro editado em 1987 e o segundo no ano de 2000, pela Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas, do Instituto Católico de Viana do Castelo.

No prefácio ao segundo volume, o padre José da Silva Lima refere-se ao autor como «o exímio cultor desta arte de deixar escrever os sinos da torre, as almofadas das janelas, o lajedo do adro, os caixotões de um tecto, as sanefas e os azulejos do interior de uma ermida. Sabe, ao longo dos seus passeios, emprestar o lápis à fachada da igreja neoclássica, medir no pormenor a capela de traço barroco ou emprestar algumas sílabas à povoação perdida no monte que se bate com o deserto das suas gentes. Encontra motivo de interesse nos dados das Inquirições, tira o pó aos alfarrábios de um qualquer arquivo paroquial e empresta a sua voz de mestre à cornija de um templo, à escadaria de um velho campanário ou ao som rouco do bronze rachado».

Antes, o padre Lourenço Alves já tinha publicado outras obras dedicadas ao património local. São da sua autoria títulos como «Aspectos da cultura castreja no Alto Minho» (Braga, 1980), «Os santos padroeiros do concelho de Caminha» (Caminha, 1984), «Caminha e seu concelho» (Braga, 1985), «Do gótico ao manuelino no Alto Minho: monumentos civis e militares» (Braga, 1986) e «Iconologia do dragão nalgumas imagens sacras do Alto Minho» (Viana do Castelo, 1987).

Para além de ter escrito diversos artigos nas revistas «Caminiana», de que foi director-adjunto, «Boletim do Centro de Estudos Regionais» e «Cadernos Vianenses», bem como em jornais como o «Diário do Minho», «Notícias de Viana», «Vanguarda» e «Voz de Carreço», do qual foi director e editor entre 1965 e 1974, publicou ainda a «Monografia de Seixas» (1988) e a d’«A Comenda de Santa Maria de Carreço» (1989). Editado em 2003, o livro intitulado «Reflexões sobre a vida» recolhe uma série de textos da sua autoria, elaborados ao longo de décadas, onde os temas oscilam entre a história das coisas e as coisas da vida.

O padre Lourenço Alves foi ainda vice-presidente do Centro de Estudos Regionais, fundado em 15 de Abril de 1978, e o primeiro presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho, criada em 16 de Março de 1983.