“É promoção”. “Eles andam aí”. “Por acaso é bom preço”. “Isso está mais para lá diante”. “Eu bem vos disse, que se queríeis vir, tínheis vindo sozinhos”. São imensas as vozes que se cruzam no espaço que envolve a Capela de S. Bento, em Cerdal (Valença), e que, por ocasião do Dia de Todos os Santos, se torna um labirinto intrincado e difícil de decifrar, composto por uma multidão de tendas e feirantes, capaz de transformar radicalmente aquele lugar.

À noite, as notícias davam conta de uma fila prolongada desde a fronteira até aos poucos lugares ainda disponíveis para estacionar.

Andrés, por exemplo, vinha da Galiza com um grupo de amigos e vizinhos. “Em Portugal encanta-nos tudo”, assinalou, numa espécie de maravilhamento infantil e sem ressentimentos por aquilo que vê.

Também oriundos do país vizinho, Helena e Luís confessam que a Feira dos Santos de Cerdal é “uma feira diferente”, assumindo que aproveitam para “passar o dia” e “comprar o que faz falta em casa”, destacando, ainda, o facto de “em Portugal se puderem vender animais na feira, ao contrário do que acontece em Espanha”.

No entanto, este ano a atenção voltava-se para a falta dos tradicionais pericos, um fruto endógeno de Valença, com traços semelhantes a uma pera. “O tempo não foi bom”, afirma Glória Meireles, proprietária de uma das muitas tendas dedicadas a frutas e produtos hortícolas ao longo da feira, e que marca presença há mais de 10 anos.

Mais à frente, Cristóvão Pereira dispõe do seu espaço, também dedicado a produtos agrícolas, mais concretamente, à comercialização de árvores de pequeno porte, com vista à futura transplantação por parte dos “fregueses”, nas suas casas. Desde 2004 que está na Feira dos Santos em Cerdal, e embora pense que há um aumento dos visitantes, confessa que “as pessoas mostram interesse, mas não têm dinheiro”.

Mas outro grupo de galegos testemunha que o seu interesse ultrapassa uma intenção comercial. “Viemos ver. Acima de tudo, falar com os amigos e passar um bom bocado”.