In memoriam: Pe. António Fernandes

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Estava a fazer a mala para umas férias no Chipre, quando vi a notícia nas redes sociais do falecimento do Pe. António Fernandes. Depois, por mail, veio a notícia  da Diocese, como habitualmente, mas por uma questão de princípio, de amizade e de conhecimento do falecido, nosso irmão no presbitério, antes de partir, porque o avião não espera, lanço à memória do computador alguns episódios em que nos cruzamos e que recordo uns com saudade, outros nem tanto.

Conheci o Pe. António em Entre Ambos-os-Rios, em tríduo do Coração de Jesus. Estava nesse trabalho, quando S. João Paulo II veio a Braga e, por causa do mau tempo, teve que se deslocar de comboio, tendo chegado pelo fim da tarde ao Sameiro.

Não pude, por motivos do trabalho que o Pe. António não queria interromper, concelebrar com o Santo Padre, mas vi-o muito de perto ainda cheio de forças. E, lançou-me um olhar forte, com os seus olhos azuis, penetrantes que nunca mais esqueci. Pude estar bem perto dele e cumprimentá-lo em Roma - tenho aqui no escritório a foto - deslocação que fiz em nome do Apostolado da Oração, de que então era promotor, na Diocese.

Voltemos ao Pe. António... Ouvia as pregações com caderno na mão e escrevia tudo. Julgo que era para depois rezar ou usar no seu trabalho.

Depois, foi transferido para Fontoura. Também aqui nos cruzamos, indo eu à paróquia dele onde já era presença habitual, no tempo do Pe. Lisboa, seu antecessor.

Como o Pe. António falava bem, também o convidei para ser o orador da festa maior cá da terra, onde deixou boa impressão e o que mais me marcou foi a sua habilidade para, no meio rural, prover à sua sustentação e da empregada ou empregadas, que foi tendo.

Tinha uma pequena exploração pecuária, bem rural, mas que lhe dava rendimento e lhe permitia ir Portugal abaixo a dar ao gatilho da espingarda, pois era um caçador apaixonado. Mas, a pobreza da Casa Paroquial de Fontoura, a que o Pe. António emprestava um ar fidalgo com os sofá e os móveis que eram seus já trazidos de Entre-os-Rios, impressionava.

Lá, como em Fontoura, a casa era fria, pobre e pouco convidativa a morar. Penso que só teve os mimos dum aquecimento e casa condigna na Casa Sacerdotal.

Temos que pensar na maneira simples como muitos dos sacerdotes, que vão partilhando, viveram e as exigências, aliás legítimas, de quem não quer morar em casa e que não tenha o mínimo de condições. O Pe. António viveu.

Que o Senhor o recompense dos sacrifícios que passou, lhe dê o descanso eterno.

Combati o bom combate… dizia Paulo, e ele teve-os, guardei a fé e ele manifestava-a, terminei a minha carreira e ele também a terminou.

Basta receber ou resta receber a coroa de glória, que pedimos a Deus para o Pe. António e para todos os colegas falecidos.

 Por Pe. Manuel Moreira

Natural de Paderne (Melgaço), o Pe. António Fernandes nasceu a 12 de agosto de 1934.

Pe. António FernandesFoi ordenado a 12 de julho de 1959, na Sé de Braga por D. António Bento Martins Júnior.

Em 1959, foi nomeado pároco em Entre Ambos-os-Rios e, mais tarde, assumiu as paróquias de Germil, Ermida e Britelo, no Arciprestado de Ponte da Barca. 

Foi ainda membro eleito do Conselho Presbiteral e Administrador Paroquial de Lindoso (Ponte da Barca).

Já em 2000, foi nomeado para pároco em Fontoura, S. Julião da Silva e Sta. Maria da Silva, no Arciprestado de Valença.

Em 2018, foi dispensado e, atualmente, estava a residir na Casa Sacerdotal, em Darque.

Faleceu a 8 de outubro de 2024.