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S. Bento trouxe de volta dezenas de devotos a Seixas
Foi debaixo de “algum” calor que a Paróquia de Seixas, do Arciprestado de Caminha, voltou a acolher a procissão em honra de S. Bento. D. João Lavrador, Bispo diocesano, presidiu à Eucaristia e benzeu os barcos com a relíquia do santo.
Alda Ramos veio de Caminha e já “há muitos anos” vem à procissão por ser “muito devota” de S. Bento. “Tenho muita fé nele. Sou uma pessoa doente e é a ele que recorro”, contou, destacando a “boa” organização da festa. “Este ano, a festa correu muito bem e ainda bem que a conseguiram realizar, porque as pessoas estavam fartas de estar em casa”, referiu, revelando que, para o ano, se a saúde lhe permitir, voltará a marcar presença.
Pela mesma devoção a S. Bento, Alice Alvarez veio de Venade a pé com uma amiga. “Da minha casa até aqui são cerca de duas horas”, começou por dizer, confidenciando que fez promessa. “Gostei muito de voltar. É bom ver as pessoas reunidas. Faz bem à alma”, sublinhou, contando: “Trouxe intenções, rezei o terço pelo caminho e, quando cheguei, fui à capela, dei a minha esmola e acendi velas”.
Já Idalina e Teresa, mãe e filha, vieram benzer um terço de S. Bento para oferecer ao filho e neto. “Sou muito devota devido aos meus pais e, portanto, quero que o meu neto também seja”, referiu Idalina. “Sou católica e quero transmitir os mesmos valores ao meu filho”, acrescentou Teresa.
A dar apoio na procissão estiveram os escuteiros do Agrupamento de Seixas, entre eles, os exploradores Hugo, Rita, Tiago e Rúben. “A nossa missão foi dar água aos que participaram na procissão”, explicou um. “É uma tarefa importante”, acrescentou outro.
Carlos Freitas é vendedor de doces regionais e destacou a importância “da parte profana da festa, sem tirar valor à parte religiosa”. “Sabemos que esta festa atrai muita gente devido à devoção a S. Bento, mas a parte profana também faz falta. O povo não se contenta só com a parte religiosa”, defendeu, afirmando que “as pessoas precisam de momentos de encontro” após a pandemia, que impediu o convívio. “As pessoas saíram de casa. Há menos poder de compra e algumas delas ainda estão assustadas com a pandemia, mas já se vai vendo ambiente. É bom sinal”, afirmou, referindo ainda que as ornamentações foram “boas” porque pôs “toda a gente a trabalhar um bocadinho”. “Estas coisas fazem falta", reiterou.
“S. Bento é o padroeiro da Europa”
Antes da bênção dos barcos, o Bispo diocesano, D. João Lavrador, presidiu à Eucaristia e recordou a vida e obra de S. Bento. ”Quando nos reunimos em festa à volta de um santo, e em concreto S. Bento, trazemos as nossas preocupações”, começou por dizer, questionando a comunidade sobre os motivos da sua devoção pelo santo. “Olhando para S. Bento, convido a colocarmo-nos não na realidade individual, mas olhar para toda a Europa, que ainda não está na sua versão final, mas que nasceu com ele”, referiu, sublinhando que o trabalho de S. Bento “não foi apenas individual”, mas “abrangente”. “Hoje, dizemos que estamos a viver um tempo de mudança/época. Há um mundo novo que está a querer crescer. Ele viveu isso também e não quis ficar parado”, contou, afirmando que “S. Bento descobriu que tinha de ir ao encontro da verdadeira sabedoria”.
O prelado defendeu ainda que “todos, e cada um à sua medida, podem contribuir para que a Europa possa ser diferente”. “Não falamos só da guerra… Tantas outras coisas. Nunca se atropelou tanto a dignidade humana. Nunca se atacou tanto aquilo que são as bases das pessoas: a vida”, referiu, acrescentando: “Nunca tanto como hoje, é preciso sabedoria, que é muito mais que só inteligência e ciência. É riqueza tal que só se entende quando se realiza em todas as suas capacidades. É a sabedoria que brota da realidade espiritual. Não é uma qualquer. É aquela que se alimenta a partir da nossa relação divina com Deus.”
Por fim, D. João Lavrador recordou as palavras de S. Paulo, afirmando que “o cristão e o homem que queiram encontrar a verdadeira sabedoria, têm de parar e saber distanciar-se, não para se refugiar, mas para se armar interiormente”. “Precisamos de nos rearmar com as armas do amor. Rearmar-nos através de uma convicção profunda e de um horizonte com sentido”, sustentou, reafirmando que S. Bento se tornou num “grande mestre”. “Só nos dá sentido quem nos deu a existência. Ou seja, Deus e, por isso, só Ele nos pode dar o sentido para a existência”, referiu, terminando: “Que S. Bento ajude e abençoe as famílias. Que ele esteja muito próximo de nós, mas nós também não nos esqueçamos de olhar para ele e recolher o exemplo da sua vida para o nosso tempo.”